A primeira vez que o vi, estava no ônibus, voltando pra casa, numa noite de domingo. Quando entrei e meus olhos alcançaram os dele, alguma parte de mim sorriu, não sei ao certo qual foi. Sentei-me perto, sabe, para poder percebê-lo, sentir o cheiro e os pensamentos, mas acho que foi ele quem sentiu, pois respirou fundo, escorregou o corpo no banco, fechou e abriu os olhos e, esboçando um sorriso, mirou-me. Tive vergonha do esmalte vermelho descascado nas minhas unhas, do tênis que um dia foi branco e do rosto corado, pegando fogo. Maldita timidez. Puxei o cordão duas paradas antes da minha, desci do ônibus e fiquei olhando seus olhos estranhos se distanciarem dos meus. "Burraburraburra", batia na minha testa enquanto caminhava para casa.
A segunda vez que o vi, estava numa mesa de bar, me controlando para não beber, por causa dos remédios. Quando meus olhos novamente alcançaram os dele, vi brotar em seu rosto um sorriso. Dirigiu-se até mim e, vendo que seria impossível chegar até a minha mesa, acenou. Eu acenei de volta, e desejei com todas as forças que ele tentasse encontrar outra maneira de chegar até mim. Ele estudou várias possibilidades até se convencer de que a melhor era passando pela mesa gigante, barulhenta e insuportável do pessoal da contábeis. Sendo assim, finalmente chegou onde queria, beijou-me o rosto e disse:
- Nossa, estou tentando chegar aqui desde aquele domingo no ônibus.
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
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