sábado, 25 de outubro de 2008

marcelo

Gostava de ver seus olhos se abrindo, devagar, frágeis. Beijava-lhe a boca e dizia um "bom dia" ao pé de seu ouvido. Ele abria um sorriso que me mantinha alegre pelo resto do dia, passava os dedos por meus cabelos recém acordados, sempre com os olhos em cima de mim. Marcelo sempre foi muito disposto. A cama quente e aconchegante não lhe tirava a coragem de levantar, vestir-se e ir de bicicleta até a padaria comprar quatro pães franceses e dois pães doces. Chegava em casa suado, cheio de energia, tirava os sapatos e se jogava no sofá. Eu reclamava, a idéia de que o suor do corpo dele estava em contato com o tecido branco do sofá não me agradava. Marcelo apenas sorria, acendia um cigarro e me chamava de "senhora".
- Se é do agrado da senhora, me levanto agora mesmo desse sofá e vou para debaixo do chuveiro, que é o meu lugar.
Mostrava-lhe um sorriso e ia para a cozinha colocar a mesa do café da manhã. Ele vinha atrás, ajudava com as louças e os talheres, depois sentava-se e esperava que eu fizesse o mesmo. Geralmente, eu colocava algo pra tocar. Chico, Beatles, Bob Dylan, a gente gostava. Comíamos e planejávamos nossa viagem pela América do Sul, numa Kombi amarela, como em Little Miss Sunshine. Era impressionante a sujeira que ele fazia com a geléia de amora. Depois do café, lavávamos a louça e deitávamos no tapete da sala para fumar um cigarro e descobrir novos pontos interessantes no corpo do outro, iluminados pelo sol, ao som de Dig A Pony. Momentos como aquele sempre terminavam em sexo. Suas mãos, sempre decididas, abriam os botões da minha blusa, puxavam-na e jogavam-na atrás do sofá. Seus lábios, sempre carinhosos, passeavam pelo meu corpo nu, e depois encontravam os meus. Eu subia em cima dele, dançava no seu ritmo, fazia seus olhos virarem, sua boca secar, seu corpo tremer. Exaustos, acendíamos outro cigarro e conversávamos sobre Kubrick e Tarantino.

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