segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Meu

Entrei no carro toda desengonçada, beijei-lhe o pescoço e coloquei o cabelo atrás da orelha. Estava tocando Sun King. Depois descobri que continuava sendo sua música favorita.
- Seu cabelo tá bonito.
- Obrigada. Cortei hoje de manhã.
- Aposto que não foi nada premeditado.
- Tem razão. Simplesmente acordei e fui pro salão.
- Você diz que mudou, mas pra mim continua a mesma.
Ligou o carro. Ele tinha razão, eu continuava sendo a mesma de sempre, pelo menos na essência. Levou-me num café francês, Chez Le Petit Prince. Começou a falar de como sentia minha falta, de como era bom poder me tocar e de como estava feliz em me reencontrar. Eu ouvia tudo calada, tomando meu expresso e prestando atenção no casal da mesa ao lado.
- Você tem buracos negros nos olhos. Antes eles eram pura luz. Por que você se machuca tanto?
- Pára de falar desse jeito, que irritante.
Tomei o último gole de café e levantei. Entrei no banheiro e passei um tempo me olhando no espelho. "que diabo de buraco negro é esse que ele falou?" Suas mãos subiram pelas minhas coxas, minha cintura, meus seios, meus ombros, meu pescoço... até chegar na minha orelha, onde aproximou os lábios e disse num sopro de voz, uma voz linda e calma:
- "You can radiate everything you are".
Virei-me para ele, sequei as lágrimas que escorriam pelo seu rosto e beijei-lhe o queixo, os lábios, as têmporas. Recolhi sua cabeça em meus seios e meus dedos passearam por seus fios de cabelo. Eu ainda o amava. Amava-o antes mesmo de conhecê-lo.
Marcelo puxou-me pela mão, pagamos a conta e fomos para sua casa. Tudo continuava no mesmo lugar em que eu havia deixado, até mesmo a minha foto na estante. Sua cama ainda tinha o meu cheiro, seu corpo ainda tinha as marcas das minhas unhas, seus olhos amarelos ainda tinham os meus. Marcelo continuava sendo meu, e continuará para sempre.

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